segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Acasos



Depois da escola, Sarah costumava ir a um parquinho que ficava perto da sua casa, não havia perigos naquela cidade de interior, muito menos naquela época. Todas as crianças iam lá, inclusive um garotinho que Sarah sempre via sentado embaixo de uma árvore com um caderninho.
           Certo dia, o menino foi até ela, entregou-lhe um papel e foi embora. Era um pequeno poema. Sarah procurou o menino, mas nunca mais o viu. Depois soube apenas que ele e a família haviam se mudado, mas nem soube o nome dele. Sarah resolveu desistir do assunto, mas guardou o poema consigo.
           Vinte anos se passaram. Sarah agora morava em um apartamento em São Paulo, era formada em medicina, mas trabalhava como fotógrafa. Tinha um namorado, o Vitor, eles estavam juntos há pouco tempo.
          Numa dessas noites de insônia, Sarah resolveu arrumar o armário e dentro de um livro velho encontrou um papel dobrado e já amarelado, era o poema do menininho do parque! O poema não tinha nada de exuberante, como não se devia esperar de uma criança, mas expressava um sentimento que Sarah já não se lembrava como sentir, as obrigações do dia-a-dia ofuscavam tais sensibilidades... Naquela noite, Sarah sonhou com o menino do parquinho, e durante semanas não pensava em outra coisa. Levava o poema pra todo lugar, lia-o, relia-o, como se cada vez que lesse algo a apaixonava mais. A essa altura Sarah amava mais aquele papel que o seu namorado, Vitor... E Vitor? Será que Vitor a amava tal como o menino do parquinho? Sarah tinha de dar um jeito naquilo e resolveu procurar o tal menino.
         Viajou para a cidade de seus pais onde era o melhor lugar para começar as suas buscas. Chegando lá, seus pais só se lembravam que a família do menino era muito esquisita; não falavam com ninguém e depois se mudaram sem ninguém saber para onde. Os atuais moradores também não sabiam.
         Sarah já estava perdendo as esperanças, quando, numa tarde, a campanhia toca. Sua mãe atende, era um rapaz:

- Boa tarde, é... morava aqui uma garotinha há muito tempo, faz uns 20 anos... É... a Sra. Mora aqui há muito tempo?...

- Uma garotinha? Só a minha filha... Sarah! – Grita para a filha.

- Sarah?!

Sarah achou aquilo estranho, mas reconheceu aquela voz. Ela saiu e finalmente viu que era...

- Vitor?!

- Sarah?!

- Vitor, o que você está fazendo aqui?

- Amor, eu...

- Amor, coisa nenhuma, eu ouvi muito bem, você estava procurando uma mulher!

- Sarah, se acalme minha filha... Espere Vitor? Era esse o nome do garotinho! – Disse a mãe enquanto Sarah nem a ouvia.

- Você se aproveitou que eu viajei e veio procurar... quem é ela, Vitor? Me diz agora! – Gritava Sarah.

- Sarah, esse é o rapaz que você estava procurando, filha!

- Então foi pra isso que você veio, Sarah, pra procurar outro homem? Por isso nunca quis que eu conhecesse sua família, não é?

-Chega! Calem a boca os dois! Vocês não estão vendo que um procurava o outro?

Os dois se olharam envergonhados.

- Esse poema – mostra o papel – Foi você que escreveu?

- Foi sim...

- Tem um erro de ortografia.




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