Tarde de sábado... outono...as crianças
passeando com o pai... olho para a sacada, o vento parece suave... casa limpa,
tudo tranqüilo... Enfim estou sozinha e posso ler o livro que comprei há quinze
dias e não tive tempo de ler! Parece tão incrível conseguir isso depois de
tanto tempo, dá até uma certa ansiedade. Mas enfim, vamos ao que interessa.
Começo a ler o primeiro capítulo, quando toca a campainha... Ora! Quem pode
ser?!
-Oi?!
-Olá, diz uma senhora de uns 85 anos
que está à porta -Por favor, será que poderia abaixar o volume, meu senhor está
um tanto debilitado e precisa de repouso.
-Mas senhora, não há nenhum som por
aqui! -Essa agora! Estou aqui, feliz por tanto silêncio...
-Tudo bem, se não quer abaixar... Diz
ela já saindo.
-Mas senhora, não há barulho aqui!...
Ah, deixa pra lá. Fecho a porta e volto a ler o livro no sofá.
-Trim trim! -O interfone, ah, o que é
agora?!
-Alô?!
-Oi, é do 217?
-É sim!
-Eu sou o síndico, recebi uma
reclamação, será que a senhora poderia abaixar o volume de seu aparelho, por
favor?
-Mas não tem nenhum som aqui em casa,
eu estou tentando ler um livro!
-Desculpe, mas a senhora do 221 ligou
aqui e disse que seu marido está doente...
-Sim, ela veio aqui, mas não tem nenhum
barulho!
-Bem, então me desculpe!...- desliga.
-Ora, mas que coisa!
Novamente, volto a tentar ler o livro,
mas a luz se apaga! Vou até o interruptor e percebo que a energia acabou! -Que
estranho, é difícil isso acontecer aqui no condomínio... deve ter queimado um
fusível!
O apartamento não é muito iluminado,
mesmo de dia. Fico pensando como lerei meu livro, quando... -Ah, não acredito a
campainha outra vez!
-Oi, atendo já sem paciência.
-Meu Deus, como você consegue ouvir
esse barulho sem energia?
-Quer dizer que foi a senhora?!
-Eu mexi em alguns fusíveis, mas... O
seu rádio é à pilha?
Ah, essa é demais! Fico tão nervosa que
fecho a porta na cara dela! Pego o livro e vou para a sacada, lá eu tenho a luz
do dia. De repente, ouço uma voz vindo de cima...
-Meu Deus, por favor abaixe o som! -É a
“bendita” senhora do 221 outra vez!
-Meu Deus, digo eu, eu já disse que não
tem som aqui!
-Ficamos discutindo por um bom tempo.
Ela pedindo que eu abaixasse o som, eu dizendo que esse não existia. Até que...
a senhora desaparece, assim sem dizer nada... Volto a ler mas já está
escurecendo... Já sem esperanças, vejo a luz se acender!
-Ding-dong! -Já estou traumatizada com
esse som...
-Oi, é ela de novo! -Só vim agradecer
por ter abaixado o volume, desculpe o incomodo, e vai embora!
- “Incomodo”, imagina...velha doida!
Pelo menos posso finalmente ler meu livro. Sento no sofá e em seguida ouço
barulho de chave na porta.
-Oi, amor!
-Oi, mãe!
-Oi, mãe! - São as crianças chegando do
parque...alegres...saltitantes... com fome!... Jogo o livro no sofá e vou
brincar com eles!
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