Marcelo é professor de direito trabalhista em uma
universidade renomada. Deixou os tribunais há vinte anos, quando Patrícia ficou
grávida de seu primeiro filho, desde então vive pacata e confortavelmente com
sua família.
Este ano, porém, ocorre um fato que mudará sua vida; o fato chama-se
Julinha. Ela acaba de se transferir para a universidade, é alta, tem cabelos
longos e olhos claros, seios fartos e um corpo escultural. Entra na sala de
aula com suas longas pernas desfilando sobre o salto alto, move os braços
suavemente e lhe abre um sorriso radiante. Marcelo nunca havia olhado para uma
aluna daquela forma e agora, simplesmente não conseguia pensar em outra coisa.
Do professor dinâmico, divertido e competente, admirado por todos, passou a
arrastar-se inebriado pelos corredores observando e memorizando cada centímetro
daquele corpo. À noite, em seus sonhos, Julinha despia-se lentamente em sua
cama, o tocava suavemente e beijava-o entre um sorriso débil e um gemido
contido.
Patrícia dormia calmamente ao lado de seu marido.
Este se atormentava com a culpa de seus pensamentos infames que, por sua vez,
só aumentavam; bastava trocar duas palavras com a aluna que sua imaginação
fluía, idealizava uma paixão enlouquecedora que o corrompia a ponto de não
conseguir olhar nos olhos de sua mulher. A convivência tornou-se insuportável.
O comportamento de Marcelo a fazia duvidar de sua fidelidade, o que não era
para menos ao passo que a loucura do professor levava ele mesmo a acreditar que
mantinha um caso com Julinha. Quanto a esta, nem suspeitava. Falava com seu
professor somente o necessário.
Enfim, Marcelo tomou a decisão, iria assumir o romance com sua aluna e
largar tudo por aquela paixão. Escreveu um bilhete marcando um encontro no
parque da cidade, colocou dentro de um livro e entregou a Julinha. Demitiu-se
da instituição já que não poderia manter um relacionamento com uma aluna. Em
casa, arrumou as malas e deu adeus a Patrícia e seus filhos. Julinha não
entendeu os olhar de Marcelo quando entregou-lhe o livro, muito menos o bilhete
que dizia: “Minha doce menina, está tudo resolvido como você queria, me
encontre às quatro da tarde no parque embaixo da nossa árvore. Do seu Marcelo”.
Acreditando que não passava de um engano, a moça ignorou o recado.
Às quatro, Marcelo esperava por Julinha no banco
embaixo da árvore, com flores numa mão e malas na outra, esperou a tarde toda,
a noite toda e ao amanhecer lá estava e, retomando os sentidos, percebeu seu
erro. Porém, agora não tinha mais um emprego, uma esposa, uma casa. E nunca
teve Julinha. Era um homem racional que raramente se guiava pela emoção que se via
entregue a um devaneio. Humilhado, imaginou-se vagando pelas sarjetas e, não
suportando a ideia resolveu dar fim a sua vida.
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