segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Fatos Irreais



Marcelo é professor de direito trabalhista em uma universidade renomada. Deixou os tribunais há vinte anos, quando Patrícia ficou grávida de seu primeiro filho, desde então vive pacata e confortavelmente com sua família.
           Este ano, porém, ocorre um fato que mudará sua vida; o fato chama-se Julinha. Ela acaba de se transferir para a universidade, é alta, tem cabelos longos e olhos claros, seios fartos e um corpo escultural. Entra na sala de aula com suas longas pernas desfilando sobre o salto alto, move os braços suavemente e lhe abre um sorriso radiante. Marcelo nunca havia olhado para uma aluna daquela forma e agora, simplesmente não conseguia pensar em outra coisa. Do professor dinâmico, divertido e competente, admirado por todos, passou a arrastar-se inebriado pelos corredores observando e memorizando cada centímetro daquele corpo. À noite, em seus sonhos, Julinha despia-se lentamente em sua cama, o tocava suavemente e beijava-o entre um sorriso débil e um gemido contido.
Patrícia dormia calmamente ao lado de seu marido. Este se atormentava com a culpa de seus pensamentos infames que, por sua vez, só aumentavam; bastava trocar duas palavras com a aluna que sua imaginação fluía, idealizava uma paixão enlouquecedora que o corrompia a ponto de não conseguir olhar nos olhos de sua mulher. A convivência tornou-se insuportável. O comportamento de Marcelo a fazia duvidar de sua fidelidade, o que não era para menos ao passo que a loucura do professor levava ele mesmo a acreditar que mantinha um caso com Julinha. Quanto a esta, nem suspeitava. Falava com seu professor somente o necessário.
           Enfim, Marcelo tomou a decisão, iria assumir o romance com sua aluna e largar tudo por aquela paixão. Escreveu um bilhete marcando um encontro no parque da cidade, colocou dentro de um livro e entregou a Julinha. Demitiu-se da instituição já que não poderia manter um relacionamento com uma aluna. Em casa, arrumou as malas e deu adeus a Patrícia e seus filhos. Julinha não entendeu os olhar de Marcelo quando entregou-lhe o livro, muito menos o bilhete que dizia: “Minha doce menina, está tudo resolvido como você queria, me encontre às quatro da tarde no parque embaixo da nossa árvore. Do seu Marcelo”. Acreditando que não passava de um engano, a moça ignorou o recado.
Às quatro, Marcelo esperava por Julinha no banco embaixo da árvore, com flores numa mão e malas na outra, esperou a tarde toda, a noite toda e ao amanhecer lá estava e, retomando os sentidos, percebeu seu erro. Porém, agora não tinha mais um emprego, uma esposa, uma casa. E nunca teve Julinha. Era um homem racional que raramente se guiava pela emoção que se via entregue a um devaneio. Humilhado, imaginou-se vagando pelas sarjetas e, não suportando a ideia resolveu dar fim a sua vida.




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